segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

AR E TERRA






Assim eu necessito. Ser parte
na linha prata do horizonte,
onde pousam os merecimentos.
Com perseverança retive, medi a força
das minhas asas, para ousar
sobrevoar o alto-mar.
Já esmoreci, retornei tantas vezes
ao posto estático de observador,
na insegurança de tempestades.
Mas os olhos refletem
o que absorvem. Vejo-me.
Limpa e leve. Luz.
Então me volatilizo, me exponho,
me atiro ao vento.
Que terra me acolherá?
A que mesmo imutável o Criador
harmonizou com o universo?
Carrego as inocências,
as armadilhas, os arquétipos,
as artimanhas, os versos,
os prantos, os cantos,
as quedas, as crenças
e tudo o que por séculos
percorri para me compor.
Num transporte de inquietações
mas também de certezas,
aceito o risco das respostas.
Sei que as mereço.
Não me lanço em vão, nem duvido
do por que ganhei asas.
Pois com a visão da fronte,
me acompanho agora,
detalhando em mínimos gestos
o que os vendavais me ensinaram.
A rodopiar um outro passo.
Suave. Novo. Apaixonado.
Sinto o amor inteiro
e me assisto sobre e dentro dele.
Curvo-me ao que vem
e deixo para trás os cegos,
os incrédulos, os apoéticos.
E assim, na linha prata
do horizonte onde dizem sonho,
onde se confundem, ocultam,
mas são colocadas as terras do Pai,
não me abandonará a leveza
no momento do pouso.
Quando delicadamente beijarei
o merecido solo e das asas
despejarei a luz recolhida.
E a resposta virá.
Nas sementes germinadas
brindando a aurora.

do livro SEMENTES PARA UM 
OUTRO TEMPO - GERMINAÇÃO
de Vania Clares