Antes de outras emoções,
antes das ausências na luta
pela sobrevivência,
antes que nos determinemos a
calar
e fique a intuição a nos
guiar,
antes de outras andanças,
de outras partidas, de novos
começos,
antes que termine o milênio
e voemos para outras
dimensões,
também para que te encontres
assim, de surpresa, em
minhas palavras,
imprescindível reafirmar,
registrar.
Ou tentar ao menos, visto
que intensidades
às vezes são inexplicáveis,
somente sentidas,
quando palavras ainda ficam
a dever
diante do que é o encontro.
Sem coincidências, sem
acasos.
Para que nunca te esqueças
de que jamais estaremos sós,
nesta ou em outras
passagens.
Muito ainda nos misturaremos
nas noites,
brindados pelos serafins com
inspiração e esperança.
Conviver quase parece um
fardo
imposto por algozes,
nos violentamos com a violência,
com tanta desigualdade e
pobreza,
às nossas margens crescem os
males,
como se de outra raça
surgissem
(ou seremos nós?).
Nos misturaremos nos rostos
das crianças,
ao imaginarmos amanhãs mais
orvalhados,
quando levitamos e as
estrelas
nos deixam quase infinitos.
Permaneces em mim como um
abraço.
Afago de mãe no medo do
escuro.
Silêncio de amanhecer. De
paz.
Faço nossas as lembranças
assim como nossas vitórias,
choramos juntos todas as
dores,
rimos um riso de alegria.
Estás em mim. Porque alguns laços
não dependem de tempo e
distância.
Nos sabemos num olhar
como um irmão sabe do outro.
Nos sabemos na saudade.
Nos sabemos apenas. Em cumplicidade.
Porque vejo em ti a centelha
divina
de um Cristo menino
a transparecer no teu gesto.
Também me vejo em ti
quando te toma a emoção
e te colocas virginalmente
perante a vida.
E porque não escondes nos
olhos o brilho, confio.
Confio no frutificar da
semente.
Da semente que matura e se
espalha,
de um tempo
em que todos se
reconhecerão.
Por isso quando te reconheço
e te chamo
amigo
sabe, estamos juntos e somos
parte vital
de um tempo maior,
o tempo do amor.