Em
reverência ao que em jorro se derrama,
desarmada de
enviesadas forças opostas,
o que sinto esvanecer-se
em solene trama
habita em infinitos
espelhos e respostas.
Ao que me
foi concedido imérito na graça,
contestando a
fatalidade da transgressão,
ao que às
vezes cruelmente me embaraça
e verte
lágrimas disfarçadas na expressão.
Ao que nas
noites me estremece e me assola
como se
recuperar o tangível fosse possível,
ao que só em
mim se reinventa, se desdobra,
na ânsia de acolher
o que vem, o imprevisível.
Enquanto
houver o farto sopro do milagre
em tudo o que
me é sagrado e santificado,
sublimo
entre os homens o que consagre
apartado dos
perversos, o bem enraizado.
Ao que avassala
em corrente reverberante
e me faz minúscula
diante da sua grandeza,
exalto aquele
que me revigora inflamante,
o deslumbre,
na paz das crianças a pureza.
Ao silêncio
das preces, os versos murmurados,
implorados com
fé aos pés do Cristo, contrita.
Porque será sempre
de mistérios inexplicados
onde profecia
a morte, a sorte jamais descrita.
E quando me absorvem
os disparates alheios
reciclo
dentro de mim o desamor em perdão,
envolvo de chama
o que se esparrama em veios,
ao ríspido, transfiro
o lumiar da compaixão.
Por escolha
tento desvendar o incompreensível,
o desatino
entre ocultar nas entrelinhas a dor
e partilhar
na palavra em poesia, o invencível.
Por amor à
vida careço viver na doação do amor.