segunda-feira, 27 de setembro de 2021

ACEITAÇÃO


 

Acomodo-me sob as pedras

que eu, audaz e placidamente

permiti perdurarem por eras,

nem um pouco estoicamente.

Invento ímpares argumentos

que articulados sem retórica,

representam meros fragmentos

de infindável absorção teórica.

(Prostração? Uno-me às metáforas

para explicar minha pseudo-sandice.

Imponho-me palavras desafiadoras,

beirando, misturando-se à pieguice.

Teimo em ser a água que circunda)

Resvalo nas pedras sem agredir

em borbulhação vasta e fecunda.

Vivo limo moldado até me fundir.


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

DISTÂNCIA


 

Meus extremos hoje percorri.

A distância entre eles condensa

eternidades.  À indução recorri,

abrandei minha ira nua e intensa,

esvaindo-me perdida em pranto.

Acarinhei clemente meu coração,

entoei de lembrança doce canto,

voltando ao meio em prostração.

Colhi a primeira flor de primavera

e enfeitei os cabelos, forcei o riso.

Respirei esperança, será quimera?


MANACÁ


 

Seu nome vem acompanhado

de nome de flor, flor da serra,

do perfume doce embrenhado

no verde úmido,  filha da terra.

 

Entoa um saber ancestral,

quando destila imperiosa

mágico cântico atemporal

de entonação harmoniosa.

 

A emoção que nova imagina

sempre foi semente contida,

gerada incauta ainda menina

entre quintais, terra batida,

 

colo de mãe, risos de irmãos,

anéis de Saturno e estrelas,

correndo em fogo, desvãos,

seguindo borboletas singelas.

 

Esperou amadurecer o hino

e florescer a prima palavra.

Aceitou seguir seu destino

transformando o que lavra.

 

Transbordante em poesia.

Salve, mulher plena de amor

que envolve em sinestesia

e emociona com primor.

 

Salve,  mulher generosa

que abraça as que foram

e as que virão. Alterosa,

encanta as que afloram.

 

Salve Janete Manacá!


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

PRISMAS


 

Jamais será a mesma

a minha leitura da tua,

o que me ensimesma

é o tanto que perpetua.

 

Sendo mulher escancaro

meu peito em devoção,

não denuncio desamparo,

nem dispenso a emoção

 

ao que chega e é bem-vindo.

Vem o sorriso instintivamente,

descortino a energia fluindo,

correspondo explicitamente.

 

Não meço acima abaixo em olhares,

não peso tuas moedas, sigo errante,

ouço atenta se quiseres teus pesares,

concordo em ser na cena a figurante,

 

não limito espaços, não fixo morada.

Sou estrela, sou afago, sou desafio

sou acolhimento, mesmo ignorada,

sou enfrentamento, luzeiro de pavio.

 

O código recebido é certeiro

e rápido, num olhar, intuitiva

na impressão do toque sorrateiro,

percebo argumentação efetiva.

 

Já me conforma a tua ignorância.

Tudo perdoo, possibilito, relevo,

nem te engrandece a tua sapiência,

será mais uma face que transcrevo.

 

Somente me espanta quando vês tudo

com desconfiança e como te agarras

ao rancor impregnado. Não me iludo

com o teu fastio, ostensivas amarras,

 

o teu cenho cerrado, tua amargura.

Pelos mesmos caminhos passamos

cientes do que fere e transfigura

e dos dias o quanto desperdiçamos.

 

E bem enumero as flores esmagadas

entre pedras e vendavais e pranto,

derramo em poesias transmutadas

o invisível quase abafado canto.

 

Colhes o que é escolha de captação:

só enxergas o espinho que craveja.

A minha leitura de mundo é estação.

Aprenderás melhor um dia, reveja.

 

Despe-te do que te enganou,

terás a lista do que te seduziu,

o que no tempo infeliz soterrou,

e a falsa língua que te traduziu

 

tão perdidamente, erradamente,

a mensagem preciosa da vida.


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

ABSTRAÇÕES


 

Quisera que das ideias inatas

prevalecessem sãs finalidades,

que mentes duras e putrefatas

não arquitetassem atrocidades.


Que vingasse a máxima criação:

o sagrado, a vida nos presenteou,

um sonho absoluto de perfeição

do etéreo originou e norteou.


Quisera muitos seres se unissem

num pensamento regenerador,

onde as intenções cumprissem

a obra divina do amor salvador.


Ouçam homens de boa vontade!

Busquem, creiam na força maior,

lutem com vigor na adversidade,

germinem e vibrem paz interior.


sábado, 11 de setembro de 2021

SONHOS NÃO MORREM


 

De um todo rebusco partículas.

Por um caminho aos solavancos,

quisera uma cena sem máculas,

sem a prepotência dos céticos.

Como voa apartado um pássaro

no deserto árido, o desamparo

estampado nas asas minadas

mas de resistência adornadas,

deslumbro desperta um alento.

Sustentam-me traços luminosos,

nos bons presságios que atento

intensificam-se sóis vertiginosos.

Para que o sonho não se extinga

reconheça a palavra desvirginada

em partes do caos. A vida vinga

na semente da poesia germinada.