Ainda
cantarei teu encanto
menina de
ventre escancarado,
geradora de
promessas e anseios,
do acolhedor
colo violentado.
Ainda
buscarei teu encanto,
no asfalto
de ciladas movediças,
nas janelas
acortinadas, anônimas,
na entrega
volúvel, indiscriminada,
nas mãos
pedintes das tuas escadas,
nos rostos
calados, apressados.
Menina,
cidade de ruas mestiças,
o diverso te
persegue na metamorfose
e o absurdo
te retoca aceleradamente.
Miscigenas
cheiros, genes e cores,
fecundada
que estás, multifacetada.
Menina,
cidade de ruas latrinas,
tua reação heroica
comove,
teu
contraste irônico consola,
tua
contradição desproporcional
atenta,
indaga e atiça.
Menina de
alma desestruturada,
farta de
estilos, farta de raças,
do sonho
altaneiro, despojada,
teu encanto
é a tua garra onírica.
O que te faz
espelho, o que te sustenta,
é a teimosia
da tua sobrevivência.