Não
mais a incomodarei...
Deixarei
Ana na cadeira do dentista,
para
que ela se atreva e não tema
enfim
um novo sorriso.
Deixarei
Ana nas estações do Metrô,
a
divagar anonima, de cabeça baixa
recolhendo o que exala as multidões,
para
suportar seus próprios passos
Deixarei
Ana entre as primaveras
acácias
e jabuticabas,
enquanto
tenta esquecer alecrins.
Deixarei
Ana e intermináveis palavras,
povoando
as noites e os jardins
dançando
nua pra lua,
quando
apenas deseja amar.
Deixarei
Ana sem espelhos,
na
sua total falta de vaidade,
quando
não lembra dos sonhos.
Deixarei
Ana, que é também Penélope,
tecendo
a história da sua vida
por
caminhos íngremes e incertos.
Deixarei
Ana retratar céu e mar
em
seus olhos delatores,
para
todas a cores do arco íris
de
uma só vez desgastar.
Deixarei
Ana adormecida
em
seu próprio tempo,
para
quem sabe acordar
ostentando
asas de borboleta.
Deixarei
Ana em si mesma,
cultivando
o ventre do seu ventre,
enquanto
germina uma outra Ana
na
continuação da semente.
Não
mais a incomodarei,
com
meus amores e minhas histórias.
Não
macularei seu tempo de casulo.
Farei
silêncio de embrião,
enquanto
espero Ana parir