Porque eu necessitava falar
das árvores utilizei as cascas.
Eu me vi afoita à argila moldar,
gerei formas, símbolos, súplicas,
risos, imagens e poesias sentidas.
Registrei riscando as paredes,
ensaiei nos rabiscos, desenhos,
transcrevi multidões e virtudes
a bondade e a maldade dos cenhos,
e das sombras e feras as investidas.
Busquei nos recursos da natureza,
o papiro cortado em lâminas,
os segredos enrolei com firmeza
e distintas surgiram as páginas.
E porque busquei a longevidade,
as letras em pergaminhos agrupei.
Na pele dos animais, praticidade!
Areia, plantas, gorduras, testei,
penas e pedras. Nomeei as cores
e as tintas, complementei figuras,
retratei as histórias e as dores,
a hereditariedade nas escrituras.
Confesso. Uma noite sonhei,
em uma sala imensa estava.
De parede a parede avistei
volumosos e desgastados livros
que a alta estante ostentava.
No centro, uma mesa de madeira
pesada, escura e bancos inteiros.
No silêncio, sob vistosa bandeira,
de túnica marrom vestidos
e as cabeças encobertas,
seres introspectivos, calados,
na penumbra. De mentes fartas.
Eu era um velho, mais um deles.
No barulho de máquinas acordo,
descrevo fiel, almas e metrópoles
e pelo computador transbordo
a rapidez dos meus pensamentos.
Humilde escriba pelas vivências
obedecendo à sina dos tempos.
Hoje faço livros. Coincidências.
Escolhida e amada continuidade.