sábado, 19 de agosto de 2017

SINCERIDADE




Não se inventa
a necessidade
de rito, de afago,
de tato, de abraço.
Não se inventa
prímulas
florescendo
em manhãs de sol,
nem o arrepio
do toque intencional,
inconseqUente.
Não se inventa
o brilho
que ilumina a face
e afasta o aperto
do cinza crepúsculo.
Não se inventa
o descompasso
da emoção,
nem a vontade
de te respirar.
Não se inventa
a ausência
que machuca,
nem o amor
que transborda
nesse
nem sei mais
o que pensar.
Não nos inventamos.

domingo, 26 de março de 2017

GERMINAÇÃO




Quando eu vim,
esvaneceram meu ser,
cobriram de cinzas os olhos.
Quando eu vim,
num labirinto esconderam
o saber que eu sabia,
num ponto atomizado,
trancaram armadilhas.
Quando eu vim,
levaram-me as cores,
afastaram de mim o espaço,
limitaram-me ao corpo.
Quando eu vim,
tropecei em invenções,
tentei passagens, inventei deuses
e por milênios persegui o que estava perto.
Pois ainda me permitiram
o sol, a lembrança, o arco-íris, a vontade.
Hoje, num vôo leve, me vejo.
Dispo-me sem medo dos disfarces tolos.
Sinto a centelha divina. Memória de luz.
Reconheço-me.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

TELE (DISTÂNCIA)



Tento exercícios telálgicos,
e pretensiosa que sou
quero arrancar a dor do teu peito.
Não perguntes por que.
Intimidam-se os poetas
com o aplauso e o louvor,
ao mesmo tempo em que almejam
a palavra tele cinética, na alma.
Busco apenas permissão e acolhida,
para eu entrar onde careça movimento.
(Porque no fundo é assim, e tudo passa,
com aragem ou ventania)
Sei que conseguimos sim,
abrir nossas janelas,
no entanto ostentamos telados reforçados
por inevitáveis resquícios telúricos,
das nossas muitas histórias.
(Esquecemos a emoção, a euforia,
os momentos fugazes?
Que tempestade arrastou o delírio da paixão
e também o desejo de ousar?
Que mornidão é essa
a que nos condicionamos?
O temor antes do amor?)
Poderia não recorrer aos parênteses
para encobrir a timidez,
a comprovar os nós atados,
e a nossa auto mordacidade.
Mas tem força alquímica
a intenção dos poetas
e enquanto inexistem em corpo,
à distância movem-se voláteis,
reinventando o lúdico,
vibrando o milagre da fênix.
Que aconteça um arrastão telepático
e nos permita fecundos, livres
para brindar a vida, enfim.
Quem dera houvesse a palavra sinérgica
de tal maneira, que ao pressentir- novo-,
teu passo ensaiasse  outro ritmo,
que ao ouvir-beijo-,
teus lábios umedecessem fartos,
ao sentir-aragem-,
tudo em ti
respondesse ventania