segunda-feira, 7 de setembro de 2015

EU SOU, COMO NÓS SOMOS

Eu sou, como nós somos...
Anjos vorazes audazes
desafiando, aceitando a sorte.
Do poço profundo enganoso
à luz transparente de orvalho,
do lago estagnado lodoso
ao vento estremecendo lento,
- somos o que somos.
Obstinados espreitamos um norte,
farejando sem trégua um claro atalho,
contendo a ansiedade num tempo
em que se almeja escolhas capazes.
Lançado aberto o pensamento
que é quase gesto, quase ato,
pesa e liberta o paralelo gerado.
Mesmo assim, haverá redenção:
uma forma de um dia suspirar
e enfim, se chegar a algum lugar.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

PERFIL

                                                                                     


A luz espontânea refletida
senão é, a clara oferta
dos que amam, em mim contida.
E que seja a ferro e fogo
a defesa do que brilha
e dos que me brindam!
Se sobreponha aos medos,
aos silêncios, aos cárceres,
se sobreponha aos imprudentes,
aos cegos, aos omissos,
porque estes subestimam,
se mascaram, se repetem
Eu, tu, somos viventes
(não sobre) que de alma aberta
cultivam  insistentes
- num vício interminável,
indestrutível, imutável -
o ciclo regenerador
de absorver  sorrisos

segunda-feira, 13 de julho de 2015

POEMA PARA ANA

Não mais a incomodarei...
Deixarei Ana na cadeira do dentista,
para que ela se atreva e não tema
enfim um novo sorriso.
Deixarei Ana nas estações do Metrô,
a divagar anonima, de  cabeça baixa
recolhendo  o que exala as multidões,
para suportar seus próprios passos
Deixarei Ana entre as primaveras
acácias e jabuticabas,
enquanto tenta esquecer alecrins.
Deixarei Ana e intermináveis palavras,
povoando as noites e os jardins
dançando nua pra lua,
quando apenas deseja amar.
Deixarei Ana sem espelhos,
na sua total falta de vaidade,
quando não lembra dos sonhos.
Deixarei Ana, que é também Penélope,
tecendo a história da sua vida
por caminhos íngremes e incertos.
Deixarei Ana retratar céu e mar
em seus olhos delatores,
para todas a cores do arco íris
de uma só vez desgastar.
Deixarei Ana adormecida
em seu próprio tempo,
para quem sabe acordar
ostentando asas de borboleta.
Deixarei Ana em si mesma,
cultivando o ventre do seu ventre,
enquanto germina uma outra Ana
na continuação da semente.
Não mais a incomodarei,
com meus amores e minhas histórias.
Não macularei seu tempo de casulo.
Farei silêncio de embrião,
enquanto espero Ana parir                                          

terça-feira, 26 de maio de 2015

TEMPORAL



Agradeço, mas não se atenham
à minha pseudo solidão
nem às evasivas respostas
quando ainda tateio morosamente.
Minha urgência ainda será tanta,
como foi e ainda é!
Somente ando de alma despida, afiada
e senão de mim virá o socorro,
o farol luzente, o aceno,
a bússola ao rumo do vir a ser.
Momento sazonal, assim como as estações.
Mas não me pesa nem me tolhe o acúmulo
dos insucessos (se forem)  
e do que deixo além,
porque também humildemente e radiante
presenteio-me  com pequenos louros
quando os mereço e sei.
Estampo-os no meu riso vez em quando
e na minha total insolência choro de emoção.
Saibam também, estou perto 
dos que me amam,
rendo-me aos que assim me têm,
nem mais nem menos diferente
dos que não me veem, vibro no silêncio
preencho-me de todos, transmuto!
Lanço a poesia, derramo aos puros,
aos iguais, aos que tem fome de vida
e aceito o desafio de ser partícula
em constante maturação (as palavras
cravam fundo, tem o poder de mil ações,
que sirvam a quem fazem sentido)
Confesso a mim mesma meus pecados
e me perdoo em algum tempo.
Sem tristezas, sem flagelos que me abalem
ou ilusões que me entorpeçam
tenho a coragem de me olhar
como criatura de um criador
e em mim ele está.

Do  livro
QUASE ARAGEM