domingo, 12 de outubro de 2014

MINHA MENINA


Pego no colo,
embalo.
Enxugo as lágrimas,
sorrio.
Levo pela mão,
brinco,
também me leva.
Voamos em asas
de gaivotas.
Mostro essa vida,
às vezes calo.
Quero-a solta,
ela se enrosca
em indagações.
Liberto-a.
(Que nas descobertas
aconteça o riso
e disfarce o amargo
da não ressonância,
risco constante).
Há o tempo.
Sem reconhecê-lo,
ainda deixo
essa menina
dançando à toa
dentro de mim.


SEMENTES DE UM OUTRO TEMPO
(GERMINAÇÃO)

sábado, 11 de outubro de 2014

DO PARAPEITO VITAL




Não sou aquilo que vês...
A couraça que percebes
é  o excesso da fragilidade
que move ou tortura.
Dentro da concha cerrada,
a porta em ferrolhos,
permito frestas que me alimentam.
E o alimento caminha filtrado
no suporte do meu parapeito.
Nele contemplo
o complexo do ser
em solidão e unidade.
Contemplo a comunhão
da beleza e ironia,
da grandeza e mediocridade
dos rumos e destinos vãos,
do irreversível óbvio pó
e o tão divinal inevitável está
em simplesmente ser.
Em entendimento e devolução
converto o que vejo
em palavras que registro.
Em minha suposta apatia,
passam as coisas, os homens,
os fatos e deixam cargas e marcas
e a sensação de ser tudo
simples e infinito.
Não há nada que me exclua
ou me distancie da engrenagem.
Sou partícula num todo
de massa, cinza, éter.
Mesmo deste parapeito inescrutável
(dirás?)  e vital feito placenta,
habito um universo 
em que sou parte
e magicamente sou todo.