quarta-feira, 30 de novembro de 2011

OPÇÃO





Ainda prefiro

o desequilíbrio,

o arrepio,

o tato urgente,

o resgate,

a catarse.

Ainda prefiro

o andar rasante,

o vôo na noite,

o catar pedaços,

o soluço no limiar

das emoções

e acolher tudo

sem medos.

E nem que seja

pelo próprio desejo,

enxergar o fio

que se alinha

à distância

do ponto sem tempo.

O fio no tempo

do desequilíbrio

de amar.

do livro SEGUNDO TEMPO
de Vania Clares



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

MENSAGEM DE NATAL



POR ALGUM MOTIVO

Que seja ao menos, porque nestes dias,
todos os amigos são lembrados,
 e sem poder controlar,
sentimos muita falta daqueles que nos deixaram;
ou porque algumas pessoas de maior posse, 
mobilizam-se acintosamente
em campanhas confraternizadoras;
ou porque somente hoje prestam atenção nos meninos
que pedem esmolas  pelas ruas imundas,
pelos faróis, nos que dormem embaixo dos viadutos. 
Que seja ao menos porque a gente,
sem saber muito bem, se sensibiliza,
e tem saudade de tantas coisas...
Ou porque algumas mães enfrentam filas
 para poder colocar embaixo da cama do filho,
um palhacinho, uma bolacha, um short usado.
Ou porque as luzes das cidades brilham
e nas casas piscam cintilantes,
coloridas lampadinhas noites inteiras.
E num contraste com nosso clima tropical,
em meio a chuvas torrenciais,
ostentam renas, trenós, papais-noéis rechonchudos,
agasalhados e de longas barbas brancas.
Que seja ao menos, porque todos correm
em busca do presente mais barato na última hora,
lotando as 25 de março, os shoppings,
num frenetismo enlouquecedor.
Ou porque nos damos direito a tenders, chesters, perus,
rabanadas, nozes e ameixas.
 Que seja porque somos quase que obrigados
a dar caixinhas, prestigiar o lixeiro, o carteiro,
esses que nos servem dedicadamente o ano inteiro.
Ou porque damos um fim rapidamente no décimo terceiro
e desejamos por merecimento,
um pouco mais que isso.
Ou porque muitos vencem a timidez, tomam uns drinques
e se permitem abraços.
Que seja porque somente nesse dia,
pensamos em fazer uma oração pelos nossos irmãos,
os que estão nas prisões reais e irreais,
os que agonizam nos hospitais e também fora dele,
os que estão sós por essa vida, os que choram,
os que não sabem de sua beleza, os desempregados,
os desesperados, as crianças abandonadas,
os que sofrem por várias razões, os que inventam razões,
os que lutam por causas justas,
os que se esvaem  por causas perdidas.
Que seja porque nos agarramos às nossas possibilidades
e recuperamos a esperança
e nos prometemos mais uma vez, mudar algumas coisas.
Ou porque recorremos ao perdão
por ser a única forma de aliviar nossas mágoas.
 Que seja porque comemoramos um aniversário.
Daquele que nos amou tanto,
que escolheu vir a este mundo e viver entre humanos
incompreensíveis e abnegados.
Que seja por estes ou por qualquer outro motivo,
lembremos que é Natal...
E que a semente que veio há mais de dois mil anos
continua germinando,  frutificando,
porque Ele escolheu renascer
 em nossos corações...
Feliz Natal...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Permanências Outonais

Hoje eu sou o adubo do meu fio.  O que escolherá entre sucumbir na lama ou fundir-se à semente, reiniciando o ciclo constante.  Que Deus se apiede de mim e me socorra na pintura dessa imagem.  Inspiração para as cores, é disso que preciso.  Também dizer adeus ao que eu penso saber.  Limpar-me e deixar-me livre para que me seja enviada a inspiração do mais divino de mim. E me preencha de mim.  A sabedoria ao buscar o pincel mais fino, a tela mais suave e clara.  A resistência à sufocação das tintas.  A moldura mais perfeita.  A adequação ao expor a consistência de um fio retocado.  Pelas sábias mãos da vida.

Salão de Baile

Ainda ficarão infindáveis
tantas histórias...
Alegres, tristes, passionais,
mas reais e possíveis,
a enriquecer páginas
e a imaginação dos poetas.
Permita Deus
que eu esteja a ouvi-las
enquanto perdurar o amor,
o encanto por essa vida
que é bem-vinda e tão linda.
E a saga continuará
pelas noites...

URGÊNCIA

O poeta fareja o odor da paixão
e é seu alimento.
Enxerga a aura porque dela faz
a sua busca e substância.
Tão inconfundível e rara a cor
ele a divisa e encanta-se
com o poder que ela tem
de transformar vidas
e designar caminhos.
Nunca precisamos como agora
- diante de tanta superficialidade -
de almas apaixonadas
e de poetas para exaltá-las...

sábado, 22 de outubro de 2011

PERMANÊNCIAS OUTONAIS

       
          

            Prosa Poética (2010)

Permanências Outonais é um livro de ficção em prosa poética, com divagações de uma personagem altamente permissiva nos seus questionamentos. Partindo da observação das estações do ano, o trajeto suicida a leva à redescoberta da vida. Nessa viagem, que passa por fases da infância, amores, perdas e conquistas, a personagem se reinventa, redescobrindo o prazer nas coisas simples da vida. Ressalta a evolução intrigante de sentimentos multifacetados, levando o leitor a experimentar as mais diversas sensações.
      

SALÃO DE BAILE



Contos (2001)

Salão de Baile é um convite à dança.  A autora se aventura na construção dos contos e retrata de forma sensível, as diversas atitudes e comportamentos de homens e mulheres freqüentadores de bailes noturnos e amantes da arte de dançar.  Aborda também aspectos sociais e emocionais.
Às vezes engraçadas, outras sérias, eróticas ou românticas, as histórias nos levam a um universo hilário, diversificado e apaixonante.
Salão de Baile foi mencionado como pesquisa para o filme “Chega de Saudade”, pelos roteiristas Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky.




...Donde estas corazon, sombras nada mas... Impossível não ser passional.  Impossível não deixar o coração inundar-se também pela emanação da dança. 

A mulher sem sorrisos se levanta nesse final.  Com as pernas ainda amolecidas pelo prazer, sai visivelmente tropeçando. Não vê mais nada a sua frente. 

Alguma noite se espera que ela tropece em algumas pernas e arda por alguma boca.

DO PARAPEITO VITAL



     Poesias (1996)
              
Poemas que apresentam profunda reflexão e  revelam a perplexidade diante da magia da criação.  A poeta se amplia, se atira, se contempla e nos revela a paisagem de seu interior como se vista por uma janela – a dos seus olhos, a de suas memórias, a da sua sensibilidade aguda e suave – num vôo sobre as sensações maduras e prontas para a colheita. E ainda: seus versos são claros, nos tocam no fundo do fundo dos nossos sentimentos esquecidos. Assim define Ana Cristina Teixeira, também poeta, os versos  Do Parapeito Vital.

 

URGÊNCIA DE AURORAS



                      Poesias (1992)


Caio Fernando Abreu, no prefácio, diz que Urgência de Auroras revela-se e sintetiza-se a partir do próprio título.  Foi escrito com urgência de anunciar e esperar por coisas mais claras, por novos começos, com pressa de assistir à chegada das luzes limpas da manhã. O susto e a cisma com que Vania observa as coisas de fora, e as de dentro, jamais são autocomplacentes ou derrotistas.  Há sempre uma vigorosa vontade de luta emboscada nos poemas, ou, no mínimo, a consciência de que nessa “invenção de viver” – como ela diz – cabem às vezes quedas, recuos e medos. Não desistências.