sábado, 7 de julho de 2018

AO OUTRO QUE ESTÁ EM MIM


Bem sei me dirás,
que este arremesso constante
à direção da dor
é covardia, exagero,
autodegeneração.
Direi não ser hipócrita.
Direi também sofrer
de atração congênita,
ao rebuscar matéria-prima,
num desafio ousado
à sobrevivência.
Que em cada segundo
impera a intensidade
e preciso viver todos,
indiscriminadamente.
Mesmo assim ilhada,
neste obstinado farol
que me armazena de realidades,
ainda brotam sementes,
cultivadas como segundos e lágrimas.
De onde às vezes ressuscito
pelo outro que me aborda,
de densa aura nivelada, 
triturando sementes estéreis.
E não me negarei ao socorro
para o que é sombra
e já está em mim.
Então levito ressurgida
quando me estendes a mão
e te ofereço minhas flores.
Dispensarás tua máscara.
Aí então te reconhecerei.

sábado, 23 de junho de 2018

TEU DESEJO




Sabiamente, ousadamente,
sussurras tua intenção devassa.
Libero as barragens das minhas veias
 e como um rio abundante, devastador,
percorre em mim teu desejo.
Reacende em tempo o mesmo querer do cio,
enquanto entranhas, pele, músculos, pêlos
estremecem ao chamado.
Teu desejo entra em mim
 consentindo o pecado.
(Excita mais, sendo assim dito e marcado,
- pecado.  Sublime ato.
Pois nada se opõe à natureza
que nos criou voluptuosos e infames,
fugazes e pérfidos, promíscuos e profanos.
No êxtase de seguirmos seu curso,
somos belos, somos perfeitos).
Teu desejo me licencia à luxúria
 desregrada e permissiva,
sem remorsos, sem máculas, sem amarras.
Incita e traz a lembrança da vida.
Que será sempre justificada
na harmonia da pulsão de todos os corpos.
Teu desejo me cria assim, lasciva,
sensualizando em pensamento, palavras.
Semeias semens na minha alma.
E versejo orgasmos.

segunda-feira, 12 de março de 2018

ANSEIO



Ofereça-me o novo, mas atente,
sem pretensão, de olhos vendados
parecerei alheia na multidão.
Em vão pensas no que me contente.
Bem sei dos meus sonhos velados
e do que resvala na minha mão.
Dirás mudanças de hormônios,
ressentimento dos desacertos,
medo, preguiça de recomeços,
perda, anulação dos neurônios.
Diga o que quiseres, o que vem
terá que exceder-se na sedução,
para sobrepor-se ao que me contem.
Não bastará só um ensaio de maturação,
pois me componho assim,
flor do vento, aspirando aragens
e dançando sob as luas.
Só em mim resplandecerá o movimento,
o sentido dos deslizes
entre as pedras nuas.
Mesmo retendo o que já vivi
feito um diamante,
o que pode ser  ainda  me desadormece;
volto à nascente da alma, me faço errante,
ainda reverencio e acolho
o que me estremece.

E ASSIM...