domingo, 30 de setembro de 2012

CIRANDA




Parei para dormir, depois de recolher
complacente e resignada,
todas as dores do mundo.
Precisei estar perto das imperfeições
e arrastei meu casulo por rochas frias,
 pedras lodosas, águas estagnadas,
por aridez de desertos.
Ditei-me adentrar em todas as essências
e transmutar em poesia
a dor e a imperfeição.
Cansada de tentar convencer os céticos,
procurei meus iguais.
E esperei sem ansiedade,
o tempo para encontrar minha casa.
No meu sono confiei no Pai
e veio a inspiração para compor a alquimia
que curasse todas as feridas.
Recordei-me de onde e por que vim
e vesti-me de coragem para retornar.
Despertei enxergando dimensões de luz
e lancei-me em águas cintilantes.
Banhei-me de mel e alfazemas.
Abraçou-me o sol.
Purificada me vi quando vibrei o amor
no amanhecer.
Brinquei com as crianças,
dancei ciranda
e finalmente pude ser eu mesma.
Hoje me surpreende viva este amanhã.
Ajoelho-me ao pé do arco-íris,
despejo cores na terra fértil.
Enfeito-me com vestido branco transparente.
Nos cabelos, guirlanda de pétalas lilás.
Flores do campo no buquê.
Perfume de jasmim.
Banquete de festa. Vinho de maçã.
Agora canto. Estou linda.
Hoje sou.

Do livro "SEMENTES PARA UM OUTRO
              TEMPO - GERMINAÇÃO"
de Vania Clares