sábado, 7 de julho de 2018

AO OUTRO QUE ESTÁ EM MIM


Bem sei me dirás,
que este arremesso constante
à direção da dor
é covardia, exagero,
autodegeneração.
Direi não ser hipócrita.
Direi também sofrer
de atração congênita,
ao rebuscar matéria-prima,
num desafio ousado
à sobrevivência.
Que em cada segundo
impera a intensidade
e preciso viver todos,
indiscriminadamente.
Mesmo assim ilhada,
neste obstinado farol
que me armazena de realidades,
ainda brotam sementes,
cultivadas como segundos e lágrimas.
De onde às vezes ressuscito
pelo outro que me aborda,
de densa aura nivelada, 
triturando sementes estéreis.
E não me negarei ao socorro
para o que é sombra
e já está em mim.
Então levito ressurgida
quando me estendes a mão
e te ofereço minhas flores.
Dispensarás tua máscara.
Aí então te reconhecerei.