O homem privado de espelhos
entre os duros muros erguidos,
não se atreve aos conselhos
generosos, outrora proferidos.
Já não se vê no rosto o tempo
acumulado de inúmeros feitos,
a lição recolhida, o lamento
preso nos seus olhos contritos.
Restou o que na alma macerou,
a luta da sua intensa história.
Do quase silêncio se apoderou,
no esquecimento a sabedoria.
Obedece à rotina penosa
de controlar morosos passos
e ninguém quer a sua prosa
nem seus sorrisos escassos.
Anularam a sua intervenção,
calaram a sua voz. Um intocável
sem tato, sem cheiro, sem função,
sem palavras, insignificável.
Até a sua consciência escolheu
refugiar-se dócil na demência,
só repassando o que viveu.
A realidade é nula de essência.
Hoje o homem é o que defasa,
dispensável memória arquivada.
Nos sulcos do rosto extravasa