Para quem eu quero ser amiga, peço:
não te espantes com intensidades,
só sei de entregas totais.
Porque reconheci e divisei
a aura que te colore magnética,
entre muitas estradas e estrelas
não devo, porque não quero,
deixar que flua despercebida
sem que nela eu delire.
Não te espantes com a emoção
que vem jorrada constante limpa.
É o meu modo de levitar
e enxergar através de muros e disfarces,
num voo ainda de gaivota aprendiz.
Nem quando me isolo e choro
em estágio embrião, sou casulo
e sei que vou nascer, verás.
Nem te inquietes com meus silêncios,
é um defeito não saber falar
e a aparecer com folhas escritas.
São retratos completos da minha alma.
Para quem eu quero ser amiga, aviso:
é preciso que sejas capaz
de captar pedidos de socorro,
cheiro, tato de desejo,
um riso solto na noite
ou um olhar triste, na multidão
de fantasmas e fumaça.
E que me bastará um afago,
um abraço, uma canção
e tudo terá resposta
com a mesma ou maior densidade.
É preciso que saibas também
que não te farei herói,
porque há muito desisti de inventar
orgasmos e brinquedos,
porque acredito ainda na magia
de desnecessárias premeditações
e na explosão das possibilidades,
como pode ser esta agora
de te chamar amigo.