quinta-feira, 28 de julho de 2022

VOLTA ÀS ORIGENS


 

     

  Acostumaram-se aos poucos.  De vinte a trinta, quarenta a cinquenta minutos, os banhos da mãe. 

Cresceram em tempo gradativamente, acintosamente. Aprenderam a não esperá-la para jantar até a dormir sem vê-la.

       Quando os problemas práticos e domésticos se agravaram, é que veio a preocupação. Agora já resolviam sobre as contas a serem pagas, o carro quebrado, o aumento do aluguel e a decoração da casa.

       Veio o questionamento de cada um. Todos responsáveis sempre cuidaram de suas vidas, seus caminhos. Por que o silêncio da mãe, a sua pele cada vez mais branca, fina, transparente?   Resolveram um terapeuta. Ao lhe comunicarem, a mãe apenas disse: “É a placenta. Esqueçam". Apenas isso.

       Na manhã seguinte a encontraram na banheira. Sorriso doce e gélido. Não se espantaram com as mãos entre as pernas encolhidas, costas curvadas. O que surpreendeu foi o líquido amniótico, transbordando denso, escorrendo pelo chão.


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