sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

CANTO SONHADO NAS RUAS DE SÃO PAULO


 

Ainda cantarei teu encanto

menina de ventre escancarado,

geradora de promessas e anseios,

do acolhedor colo violentado.

Ainda buscarei teu encanto,

no asfalto de ciladas movediças,

nas janelas acortinadas, anônimas,

na entrega volúvel, indiscriminada,

nas mãos pedintes das tuas escadas,

nos rostos calados, apressados.

Menina, cidade de ruas mestiças,

o diverso te persegue na metamorfose

e o absurdo te retoca aceleradamente.

Miscigenas cheiros, genes e cores,

fecundada que estás, multifacetada.

Menina, cidade de ruas latrinas,

tua reação heroica comove,

teu contraste irônico consola,

tua contradição desproporcional

atenta, indaga e atiça.

Menina de alma desestruturada,

farta de estilos, farta de raças,

do sonho altaneiro, despojada,

teu encanto é a tua garra onírica.

O que te faz espelho, o que te sustenta,

é a teimosia da tua sobrevivência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário