terça-feira, 21 de junho de 2022

MEU SERTÃO


Eu bem me lembro.

Vem como sonho, um norte,

um candeeiro de luz pálida,

brilhando bem menos

que a lua rodeada

de estrelas abundantes.

O casebre de paredes

caiadas, carcomidas,

um cheiro de ar seco

e o silêncio da noite

fechando o dia de sol ardente.

Folhas esturricadas estalando,

pingos dos suores da labuta,

cigarras cantando.

Lembro do caramanchão

carregado de maracujás,

os jasmins amarelados.

Os chuchus resistindo

no verde em meio a samambaias,

poças de esterco e varejeiras.

Lugar de gente humilde eu diria,

a simplicidade entendida

sem ambições ou revoltas.

Bastava quarar as roupas

embarreadas e um banho de rio

para as 6 horas da Ave-Maria.

A bisavó e a corcunda no fogão

a lenha,  o feijão com louro

e as crianças manchadas de amora.

Não o visito, não tem no mapa,

mas me lembro .

Encontra-se entranhado

na minha memória

em algum lugar no tempo.

 

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