quinta-feira, 14 de agosto de 2014

MANDAMENTO

Em nome do teu próximo
reprimes tua necessidade
e retardas o chamado
de escalar os degraus do mundo.
Em nome do teu próximo
engoles o resto, o não,
o medo, o fel, o caos,
o permitido de cada dia.
Em nome do teu próximo
dás esmolas, jejuas,
velas impensados dogmas,
guardas o sábado.
Em nome do teu próximo
lanças bombas, vírus,
inventas Rocinhas, Febems,
Etiópias, Treblinkas,
raças, pecados, misérias.
Em nome do teu próximo
escorres o suor no peito,
esvazias tua vida, os minutos,
desperdiças oxigênio, pão,
espermas, campos férteis.
Por amor ao teu próximo
te limitas às vezes à solidão
para poupá-lo do fardo
desconcertante da tua dor,
por não saberes ainda agir,
por não saberes ainda falar.
À noite, cúmplice do silêncio,
retiras as bandagens
da tua máscara cotidiana,
retocas e renovas as marcas
do teu autoflagelo.
Na verdade do espelho
poderia refletir a luz,
a comunhão, o respeito
ao melhor do teu deus
e à oferta gratuita de ser.
No teu espelho irmão
impossível seria a destruição,
tanto suicídio em massa,
se reforçado na entrelinha
coubesse um     “também”.
Ama o teu próximo
como também a ti mesmo
e certamente admitirias
existir imagem e semelhança


DO PARAPEITO VITAL

Um comentário: