quinta-feira, 16 de setembro de 2021

PRISMAS


 

Jamais será a mesma

a minha leitura da tua,

o que me ensimesma

é o tanto que perpetua.

 

Sendo mulher escancaro

meu peito em devoção,

não denuncio desamparo,

nem dispenso a emoção

 

ao que chega e é bem-vindo.

Vem o sorriso instintivamente,

descortino a energia fluindo,

correspondo explicitamente.

 

Não meço acima abaixo em olhares,

não peso tuas moedas, sigo errante,

ouço atenta se quiseres teus pesares,

concordo em ser na cena a figurante,

 

não limito espaços, não fixo morada.

Sou estrela, sou afago, sou desafio

sou acolhimento, mesmo ignorada,

sou enfrentamento, luzeiro de pavio.

 

O código recebido é certeiro

e rápido, num olhar, intuitiva

na impressão do toque sorrateiro,

percebo argumentação efetiva.

 

Já me conforma a tua ignorância.

Tudo perdoo, possibilito, relevo,

nem te engrandece a tua sapiência,

será mais uma face que transcrevo.

 

Somente me espanta quando vês tudo

com desconfiança e como te agarras

ao rancor impregnado. Não me iludo

com o teu fastio, ostensivas amarras,

 

o teu cenho cerrado, tua amargura.

Pelos mesmos caminhos passamos

cientes do que fere e transfigura

e dos dias o quanto desperdiçamos.

 

E bem enumero as flores esmagadas

entre pedras e vendavais e pranto,

derramo em poesias transmutadas

o invisível quase abafado canto.

 

Colhes o que é escolha de captação:

só enxergas o espinho que craveja.

A minha leitura de mundo é estação.

Aprenderás melhor um dia, reveja.

 

Despe-te do que te enganou,

terás a lista do que te seduziu,

o que no tempo infeliz soterrou,

e a falsa língua que te traduziu

 

tão perdidamente, erradamente,

a mensagem preciosa da vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário