segunda-feira, 10 de agosto de 2020

NA SOLIDÃO DOS EUS

 

Eu e mais eus,

atinados sutilmente

na laboração dos anos

na constatação mormente,

ausentes de danos.

A expectativa comprova

e anuncia a descoberta,

espreito voraz o que renova

e no meu âmago desperta.

Não haverá aquele que sacia

enquanto assombro provoca.

O meu silêncio denuncia,

perecerá o que sufoca.

Jamais no outro invadirá

o que só em mim conflita.

Do outro não cumulará

a voracidade que me habita

— Não deduzas, não bastará

o dedo em riste, não aponta

a inspiração que encontrará

na solidão qualquer afronta.

Porque não a sinto. Não solidão 

Perdão, não te subestimo.

De ti recolho as sobras

e as reinvento no íntimo

enquanto ditas as letras.

Eu e meus eus

integramo-nos nas noites

e digladiamos às vezes.

Surgem convergentes

lançando novos matizes

virgens e nus entre lucidezes.

Com mil facetas contornadas

devastam meus quereres.

Visto-os de essências serenadas

e nos comungamos absolutos.

No poema gerado em harmonia

surpreendem-nos os arautos:

mais um milagre ao raiar o dia!

 


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