sábado, 8 de agosto de 2020

O MAIS DA INFÂNCIA

 

Referências as teve

Sem querer as absorveu

E chegaram assim,

Pelos tios, o avô,

E de tudo ficou um pouco

Do tio, cantando sempre

A mesma música italiana

e rindo alegremente

Juntando as crianças

Para uma volta de carro

Do avô a sisudez

O arrastar dos chinelos

No assoalho encerado

A sopa de feijão sorvida

O cachimbo enfumaçando

Os corredores

O afago no cachorro

As poucas palavras

A não ser no dia de Natal

Quando havia vinho tinto

E o amor dele transbordava

junto ao funil da multiplicação

A rotina seguida

Com retidão

E obediência

Se na casa recendesse

O sabonete do banho

O pai em casa, que lenitivo!

Na ausência,  a apreensão

Pelo que haveria

E também seria rotina

Depois do almoço

A menina fazia as tarefas

Da escola no parapeito

Da janela de madeira

Carcomida pelo tempo

O tempo também

Das suas ânsias

E inquietudes,

Ensimesmada

E já registrando

Os primeiros poemas

Às seis da tarde

As crianças se ajeitavam

Aos pés do avô

E do rádio que só podia

Ser ligado nessa hora

A Ave-Maria...

E ao soar dos sinos

Todos rezavam

Pelo silêncio

Do restante das horas


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