sexta-feira, 7 de maio de 2021

MÃES



Mãe, sabes quem sou eu?

E aí, lembro,  me olhavas intensamente,

no mais fundo da nossa cumplicidade.

Eu entendia quando consumadamente

esfregava as roupas com passividade,

dias e noites com mágoas e lágrimas,

com zelo, em qualquer clima. Eu vibrava

quando cantavas numa língua de rimas

que eu pensava adivinhar. Imaginava

tua dança quente do tempo das paixões,

quando decerto fazia sentido sentidos

aflorados a toques, calor,  hálito, ilusões,

aos poucos gerando desejos contidos.

Eu me aproximava atenta da tua história.

E nas noites de gritaria tremedeira e pavor

e o silêncio depois,  jamais se restauraria

o pensamento, só escondia  aflição e dor.

Tudo o que te pertencia eu sublimava.

E as despedidas, as faltas e os porquês,

o que nunca teria resposta e somava

ao meu engasgo ante as razões torpes.

Mãe,  sabes  quem sou eu?

Porque hoje eu me vejo muito em tudo

que em ti eu via e procuro juntar as peças

desse quebra-cabeça áspero e pontiagudo,

infinito carregado de mesmas desavenças.

Por razões que ainda desconhecemos

mesmo assim, repetidamente tentamos

nesse rodamoinho que chamamos vida.

Mãe, sabes quem sou eu?

Porque nem eu sei mais. Igual exaurida.

Tal nossas antecessoras, luta repetida.

 


 



 

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