Mãe, sabes quem sou eu?
E aí,
lembro, me olhavas intensamente,
no mais
fundo da nossa cumplicidade.
Eu entendia quando
consumadamente
esfregava as
roupas com passividade,
dias e noites
com mágoas e lágrimas,
com zelo, em
qualquer clima. Eu vibrava
quando
cantavas numa língua de rimas
que eu
pensava adivinhar. Imaginava
tua dança
quente do tempo das paixões,
quando
decerto fazia sentido sentidos
aflorados a toques,
calor, hálito, ilusões,
aos poucos gerando
desejos contidos.
Eu me
aproximava atenta da tua história.
E nas noites
de gritaria tremedeira e pavor
e o silêncio
depois, jamais se restauraria
o pensamento,
só escondia aflição e dor.
Tudo o que
te pertencia eu sublimava.
E as
despedidas, as faltas e os porquês,
o que nunca
teria resposta e somava
ao meu
engasgo ante as razões torpes.
Mãe, sabes quem sou eu?
Porque hoje
eu me vejo muito em tudo
que em ti eu
via e procuro juntar as peças
desse
quebra-cabeça áspero e pontiagudo,
infinito carregado
de mesmas desavenças.
Por razões
que ainda desconhecemos
mesmo assim,
repetidamente tentamos
nesse rodamoinho
que chamamos vida.
Mãe, sabes quem
sou eu?
Porque nem
eu sei mais. Igual exaurida.
Tal nossas
antecessoras, luta repetida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário