sábado, 31 de julho de 2021

EXCLUSÃO INGRATA

O homem privado de espelhos

entre os duros muros erguidos,

não se atreve aos conselhos

generosos, outrora proferidos.

 

Já não se vê no rosto o tempo

acumulado de inúmeros feitos,

a lição recolhida, o lamento

preso nos seus olhos contritos.

 

Restou o que na alma macerou,

a luta da sua intensa história.

Do quase silêncio se apoderou,

no esquecimento a sabedoria.

 

Obedece à rotina penosa

de controlar morosos passos

e ninguém quer a sua prosa

nem seus sorrisos escassos.

 

Anularam a sua intervenção,

calaram a sua voz. Um intocável

sem tato, sem cheiro, sem função,

sem palavras, insignificável.

 

Até a sua consciência escolheu

refugiar-se dócil na demência,

só repassando o que viveu.

A realidade é nula de essência.

 

Hoje o homem é o que defasa,

dispensável memória arquivada.

Nos sulcos do rosto extravasa

a morte decretada, antecipada.

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