sexta-feira, 12 de novembro de 2021

CONFISSÃO


 

Porque eu necessitava falar

das árvores utilizei as cascas.

Eu me vi afoita à argila moldar,

gerei formas, símbolos, súplicas,

risos, imagens e poesias sentidas.

Registrei riscando as paredes,

ensaiei nos rabiscos, desenhos,

transcrevi multidões e virtudes

a bondade e a maldade dos cenhos,

e das sombras e feras as investidas.

Busquei nos recursos da natureza,

o papiro cortado em lâminas,

os segredos enrolei com firmeza

e distintas surgiram as páginas.

E porque busquei a longevidade,

as letras em pergaminhos agrupei.

Na pele dos animais, praticidade!

Areia, plantas, gorduras, testei,

penas e pedras. Nomeei as cores

e as tintas, complementei figuras,

retratei as histórias e as dores,

a hereditariedade nas escrituras.

Confesso. Uma noite sonhei,

em uma sala imensa estava.

De parede a parede avistei

volumosos e desgastados livros

que a alta estante ostentava.

No centro, uma mesa de madeira

pesada, escura e bancos inteiros.

No silêncio, sob vistosa bandeira,

de túnica marrom vestidos

e as cabeças encobertas,

seres introspectivos, calados,

na penumbra. De mentes fartas.

Eu era um velho, mais um deles.

No barulho de máquinas acordo,

descrevo fiel, almas e metrópoles

e pelo computador transbordo

a rapidez dos meus pensamentos.

Humilde escriba pelas vivências

obedecendo à sina dos tempos.

Hoje faço livros. Coincidências.

Escolhida e amada continuidade.



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