domingo, 21 de novembro de 2021

RESPEITO


 

Respeita o meu silêncio.

As marcas do meu rosto, ignora,

os retratos do que vivencio

acumulo na caixa de pandora.

Nem me avisa da falta de reboco,

do cio acobertado pelo descaso,

armadilha estranhada em desfoco,

fingida defesa dita que transvaso.

Respeita a minha revolta.

Porque tudo parece estagnado

e improdutivo e mesmo solta,

depois do caminho explanado,

ainda quebro as pedras da estrada.

Respeita o cansaço que arrasto

pelos tempos e tanto me degrada.

E por isso eu te conto: desgasta.

Assisto às cenas e quase decoro

as frases de efeito dos mercadores,

dos estoicos e dissimulados, demoro

a reconhecer os escarnecedores.

Fecho-me em copas, contundida.

Quando a morte me ronda disfarço

e finjo que posso buscar acolhida.

No eixo da minha mãe me ressarço.

Respeita minha pose fetal,

daqui um pouco eu nasço.

Que me componha mesmo letal

um resto de luz, me refaço

naquela que sempre guardo

para as emergências. Somente

ao perceberes como um dardo

o brilho nos meus olhos, veemente,

esquece meus pedidos anteriores.

Se possível me enfeita de flores

e me abraça de corpo e alma.

 

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