sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DESIGUAIS?


 

Dedicado aos meus netos brancos, pretos, mulatos, índios, mestiços, pobres, ricos, aos que morrem injustamente todos os dias e ao futuro da nossa raça humana


Sinto, provoca em mim a acuidade

quando a tua cor é estigmatizada

pela dor, escrava da alheia crueldade

durante tantos séculos hostilizada

 

Sinto, acredite, ainda não entendo

qual o peso da minha branquitude

se os mesmos sentimentos valendo

são iguais e tantos à tua negritude

 

Lembro que na escola, hora do recreio

eu chorava com a menina Raimunda

sem hesitação meu ombro era esteio

nascendo assim uma amizade fecunda

Nem sei porque nunca me incomodou

ela ser desengonçada e preta, cabelos

de nuvens e tranças, pelo que herdou

apelidos e agressões sem escrúpulos

 

Sinto, acredite, até hoje não entendo

a discriminação com vãs justificativas,

juntos assistimos a revolta corroendo

sem decretos e soluções  assertivas

 

Por isso te digo, não somos culpados

pela nossa natureza e por sentirmos mais.

Por injustiças inúteis somos impactados

e optamos por acrescer aos desiguais

 

Entenda, me considero também minoria

ainda luto com garra para sobreviver,

também carrego dor na minha história,

mas não permito o opressor me envolver

 

Sou branca, pobre, velha e dependente

da luta, da minha e a tua força conjuntas

Somos diferentes por conta do excedente

nas nossas sãs humanidades distintas

 

Dize-me que não posso ter propriedade

do que encaras tendo a tua epiderme

Avalia quando respondo à tua criticidade

às vezes ser mulher comparam a ser verme

 

Vê, sou branca por acaso, também morro,

também ardo, também arrasto estigmas,

signos e sinas, e como tu também recorro

ao despejo de palavras cabíveis e legítimas

 

Aconchego-me ao teu ombro tal Raimunda.

Em comum nos move a inabalável esperança

de que um dia nos encubra aura rotunda

onde poderemos conviver em temperança

 

Onde vidas sempre  importarão


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