quarta-feira, 7 de abril de 2021

ODE À VIDA


 

Em reverência ao que em jorro se derrama,

desarmada de enviesadas forças opostas,

o que sinto esvanecer-se em solene trama

habita em infinitos espelhos e respostas.

 

Ao que me foi concedido imérito na graça,

contestando a fatalidade da transgressão,

ao que às vezes cruelmente me embaraça

e verte lágrimas disfarçadas na expressão.

 

Ao que nas noites me estremece e me assola

como se recuperar o tangível fosse possível,

ao que só em mim se reinventa, se desdobra,

na ânsia de acolher o que vem, o imprevisível.

 

Enquanto houver o farto sopro do milagre

em tudo o que me é sagrado e santificado,

sublimo entre os homens o que consagre

apartado dos perversos, o bem enraizado.

 

Ao que avassala em corrente reverberante

e me faz minúscula diante da sua grandeza,

exalto aquele que me revigora inflamante,

o deslumbre, na paz das crianças a pureza.

 

Ao silêncio das preces, os versos murmurados,

implorados com fé aos pés do Cristo, contrita.

Porque será sempre de mistérios inexplicados

onde profecia a morte, a sorte jamais descrita.

 

E quando me absorvem os disparates alheios

reciclo dentro de mim o desamor em perdão,

envolvo de chama o que se esparrama em veios,

ao ríspido, transfiro o lumiar da compaixão.

  

Por escolha tento desvendar o incompreensível,

o desatino entre ocultar nas entrelinhas a dor

e partilhar na palavra em poesia, o invencível.

Por amor à vida careço viver na doação do amor.


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