Um homem derrama grãos
pelas escadas do templo,
mistura-se aos pagãos.
Estanca no degrau amplo
onde também cabe Judas
e além dele, muitas divisas.
Nas faces úmidas desnudas
tremulam lágrimas tensas.
Enquanto recebe o beijo
tilintam as trinta moedas,
escuta também o regozijo
dos brutos em suas quedas,
e perdoa os falsos que pregam
e o coroam rei dos vermes.
Gritam em cólera e subjugam
exibindo mentes disformes.
(Nos presentes judas as promessas
ludibriando humilhados pobres,
submetendo ao poder as massas
de seres escravizados, milhares.
Os cascos estalam no asfalto,
jazem meninos aos jorros,
mães de mãos calejadas ao alto
imploram da justiça o socorro).
Escorre sangue entre espinhos
enquanto o silêncio vela a morte.
Estarrecido entre os daninhos
busca o salvamento que exorte,
algum sentido que justifique
a violência diante da equidade,
se ainda há algo que dignifique
os que vislumbram a unidade.
Proclama-se lírico o deus homem.
Faz do grão palavra que floresce
curando as dores que oprimem.
Milagrosamente todo dia ele renasce
e avisa, ainda é tempo de plantio,
ainda é tempo de estender as mãos.
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