quinta-feira, 1 de abril de 2021

ACERTOS


 

Quando me vi farol brilhando

na escuridão soturna do mar,

quando a relva ressecando

intimou o essencial orvalhar

e uma nuvem encobriu pesada

a claridade da lua antes cheia,

quando me amordacei defasada

em concessões, o fel em cadeia

escorreu dolorido na garganta.

Quando constatei reles moedas

de troca, no que  desencanta

a disparidade das concedidas,

quando não provocou ressonância

o carinho despendido em emoção,

somente a poesia em abundância

em socorro regenerou o coração.

Proferindo sussurros fragmentados

insisti inocente nos ouvidos surdos,

que ditados em verbos acidentados

converteram-se tão logo em fardos.

Quando restaram as palavras

escorrendo no limbo gosmento,

espalhando-se em metáforas

reduzidas a mero ressentimento,

a despedida desenrolou fatal.

Depois da certeza de ter feito

muito mais do que pedias, letal

jeito de remeter ao imperfeito.

Quando não me importei

em mostrar a face abatida

e inúmeras vezes inventei

até de forma ensandecida

ajeitar teu caminho ao meu lado,

quando esgotei meus argumentos

inutilmente havia acalentado

nossas sombras em desalentos

num gesto perdidamente solto.

Quando sobraram as diferenças

percebi de revés no olhar revolto,

melhor repensar minhas crenças.


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