Quando me vi farol brilhando
na escuridão soturna do mar,
quando a relva ressecando
intimou o essencial orvalhar
e uma nuvem encobriu pesada
a claridade da lua antes cheia,
quando me amordacei defasada
em concessões, o fel em cadeia
escorreu dolorido na garganta.
Quando constatei reles moedas
de troca, no que desencanta
a disparidade das concedidas,
quando não provocou ressonância
o carinho despendido em emoção,
somente a poesia em abundância
em socorro regenerou o coração.
Proferindo sussurros fragmentados
insisti inocente nos ouvidos surdos,
que ditados em verbos acidentados
converteram-se tão logo em fardos.
Quando restaram as palavras
escorrendo no limbo gosmento,
espalhando-se em metáforas
reduzidas a mero ressentimento,
a despedida desenrolou fatal.
Depois da certeza de ter feito
muito mais do que pedias, letal
jeito de remeter ao imperfeito.
Quando não me importei
em mostrar a face abatida
e inúmeras vezes inventei
até de forma ensandecida
ajeitar teu caminho ao meu lado,
quando esgotei meus argumentos
inutilmente havia acalentado
nossas sombras em desalentos
num gesto perdidamente solto.
Quando sobraram as diferenças
percebi de revés no olhar revolto,
melhor repensar minhas crenças.
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