quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

PERDÃO


 

A todos eu penso que perdoei

neste meu caminho incauto.

Tantas vezes em muito destoei,

abati-me, deixei-me conduto

do alheio fel, ferida a ferro e fogo.

Perdoei os que me enganaram

e verteram palavras em sumidouro,

sem hesitar, falsos me trocaram

por meras trinta moedas de ouro.

Os que beijaram a minha face

com lábios gelados e secos

os que pretenderam um enlace

e se perderam em botecos.

Ácidas palavras me cobriram

e antevi a cruel perversidade.

Já perdoei dores e desamores

despejados em mim sem piedade.

Inescrupulosos se refastelaram

na minha inata docilidade.

Já perdoei os que provocaram

a ira, o grito, meus temores.

De todos escondi as covardias

e doei amor com permissividade.

Só a mim não logrei perdoar.

Nem dos inconscientes atos.

Com a máxima culpa a atordoar

carregarei até abstratos fatos

além do fim dos meus dias.

Que me permitam cair dos céus

reparação, salvação que valha,

o ensejo de dispersarem os véus

e não tornar a mágoa uma muralha.

 


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