segunda-feira, 13 de julho de 2020

À BEIRA DO XEOL


Em constante defesa de preservação
converto a revolta em força.
Lateja na cabeça a mesma tecla gasta
enquanto modelo o que absorvo.
Como um rato em cela de laboratório
numa programação insana e inútil
rodo desesperadamente em círculos.
Não me cabe mais o que recolho
- fica o reconhecimento de luz -
não mais comporto o que assimilo
- despejo num sorriso de compaixão -
Ah, como eu queria de longe observar
a atuação dos tiranos e dos pobres...
Perdoo-os sim, menos a mim mesma.
De que me ajuda situá-los
num mundo vasto,
pródigo de ínfimos valores?
De que me adianta o êxodo
de minhas crenças, de meus desejos?
Quem me dita o sacro-ofício de servir?
Quem me dita fingir que aprendo
esse jogo incoincidente e vil?
Socorre-me Espírito,
unta-me com óleo sagrado
para que eu possa me arrastar
por entre lanças sem sangrar.
Dá-me o entendimento, a remissão,
tenho as duas faces e o coração feridos.
Pois que aumenta mais
a minha máxima culpa
de participar, de estar, de pactuar
com tanta miséria humana.

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