terça-feira, 21 de julho de 2020

DESCOBERTA DA ESCRITA



Era criança mirrada de doze anos
e gaguejava muitas vezes ao falar,
introspectiva, não causando danos
mas não acertando como se igualar.
Aparentemente só e apática
devorava interessada os livros
como se dependesse na prática
buscar para si o viço, os parâmetros.
Para enfrentar a humilde vida
e entender as dores da existência
isolava-se do mundo protegida
pela ilusão da sua transparência.
Foi chamada na sala de aula
para explanar algo sobre o livro.
Quis explicar: dele sou discípula
é o amigo que se doa sem crivo.
Destoou do alheio entendimento.
Simplesmente riram debochadas
causando-lhe bochechas coradas.
A mãe: que constrangimento,
precisa aprender a falar menina!
Acabrunhada diante de tal impasse
mas já dotada de arte feminina
magnetizou o que acaso lhe atentasse.
Armou-se de coragem lápis e caderno
foi até a janela e absorveu, observou.
Desbravando no outro seu interno
descobriu-se intérprete, não mais calou.
Transcrevendo as essências, tudo falou.

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