Quero desobrigar
a ordem das rimas
mas altivas
predominam, gozadoras,
as palavras borbulham
especialíssimas
enquanto as denomino
assustadoras.
Deve ser
efeito da causa deprimente
do que vivemos
e, para não sucumbir,
acato
exercícios fartos para a mente
conformar-se vigilante
e não imergir.
Porque na
verdade prefiro os versos
sem fronteiras,
vazios de imposições,
estalos
mágicos que surgem dispersos
como atalhos
para as contemplações.
Permito hoje
dar passagem à aflição,
Acostumar em algum lugar de mim
os murmúrios
das dores, contradição
que acompanha o
paradoxo sem fim.
Hoje me
condeno ao tormento, absorver
o caos sem
direção, cenário de guerra,
dantes, nunca tendo
tanto a transcrever
do total desamparo
que assolou a terra.
Assisto às
pessoas cansadas, empatia
escassa em
muitos, irresponsabilidades,
descaso, manipuladores da pandemia,
indigesta
pobreza, nojentas sociedades.
Por isso a palavra
contida, reticente,
enclausurada, extraviada,
indefinida,
reservando o pobre
quase evanescente
cântico para quando
eu ensandecida
puder abraçar de
peito encostado,
respirar sem
máscara, sem perigo,
dançar uma
noite de rosto colado,
saciar lesa a
fome a que me obrigo.
Enquanto vêm
as notícias das mortes
acumulo mágoas
e alguma esperança
de retornarem
os tempos complacentes,
quando sentia
a vida como uma criança.
Eu anotava em papéis
as impressões
recolhendo energizada
e redundante
as minhas e
dos outros as sensações,
e depois as
unia ao poema inebriante.
Chega de
dores, quero a minha alegria
de volta, basta
de clausura e austeridade.
Quero saborear
ainda o devir com euforia
e anunciar
extasiante o gosto da liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário