sexta-feira, 26 de março de 2021

LEGADO ÀS CRIANÇAS


 

Criança alça voo! Pelas janelas abertas

dos teus olhos deslumbra horizontes,

são infinitas as formosuras expostas

pelo criador de todas as coisas e fontes

infindáveis. Aprofunda o conhecimento.

Não pensa nos desastres cotidianos,

é legítimo capacitar o discernimento,

indispensável reconhecer os profanos,

ainda o que é bom, verdadeiro e belo.

Acata o indelével como o efêmero.

Aceita em ti o pensamento paralelo,

o confuso, o desacerto, o desespero.

Esteja ciente de que haverá enganos

ao concluir o que precisa ser mudado,

verte compaixão sobre os desumanos,

o distúrbio alheio covardemente vedado.

Só derrama infinita e farta generosidade

quando consentida a poesia sem reservas,

contempla os ignorantes com neutralidade.

Sabe, eu também percorri águas turvas,

calei-me no afastamento, na observância,

para não me sujarem os hipócritas e insanos,

choquei-me com o insólito, a discrepância,

não os licenciei a me possibilitarem danos.

As adversidades reforçam as convicções

mas também, não as determino finalizadas,

as conclusões sofrem prováveis mutações,

liberto-me de imposições preconizadas.

Perdão, não posso conter as tuas dores

nem as tuas lágrimas, mas sabe, confia!

Enquanto acalento atenta teus pudores

reconheço-me inteira, cabe empatia.

Eu me desonero e me compreendo

no que é visceral e na incompletude,

mesmo ciente do que fico te devendo

para que te envolvas em só virtude.

E prolongo em ti com humildade

a menina que sentia e não sabia dizer,

gaguejava e despejava intensidade

no pranto que não conseguia conter.

Não vejas a culpa do que carregas,

a mágoa dos que tem consciência.

Entende, até nas coisas mais piegas

recolhemos as graças da indulgência.

Fatalmente, transfiro a ti a complexidade,

herda as rimas distintas no entendimento

do que além das entrelinhas se estende,

a ti a ousadia da tradução, a continuidade,

—És flor que floresce ao léu no vento,

ora brisa, ora furacão—  a eternidade

da semente do amor vencendo o tempo,

do mistério intrínseco do que transcende.


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