Quiséramos que a vida passasse
flutuando tal um barco sem leme,
sem projetar o fim que alcançasse
o destino que ninguém desteme.
Navegasse calmamente no silêncio
e a paz que merecemos previsível
fosse sempre escolha. O prenúncio
de que o rumo, esse fatal invisível
cordão conectado ao desconhecido,
não trouxesse junto a complexidade.
Não doesse na memória o tempo ido,
só permanecessem na cumplicidade
ecos de vozes, de risos, de festas,
resquícios de trejeitos, apreços,
a última valsa dançada, serestas
e cheiros impregnados, abraços,
regalos dos encontros de emoção,
harmonia, tantos retratos de orgulho
apontando tesouros com devoção.
Se melhorar estraga, ele feliz
dizia.
Partiu assim, sem muito barulho,
deixando as sementes, o legado,
o exemplo de bondade e alegria.
Tudo agora é etéreo e enraigado
na luz, na calma da eternidade.
Mesmo sabendo, somos pequenos
ao repetirmos em religiosidade
—Seja feita a Tua vontade—
Ainda nos faltam fulgores plenos,
sufocamos, engasgamos rebeldes
e nos confundimos na ambiguidade:
aceitar a partida sentindo saudades.
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