segunda-feira, 15 de março de 2021

DESPEDIDA


 

Quiséramos que a vida passasse

flutuando tal um barco sem leme,

sem projetar o fim que alcançasse

o destino que ninguém desteme.

Navegasse calmamente no silêncio

e a paz que merecemos previsível

fosse sempre escolha. O prenúncio

de que o rumo, esse fatal invisível

cordão conectado ao desconhecido,

não trouxesse junto a complexidade.

Não doesse na memória o tempo ido,

só permanecessem na cumplicidade

ecos de vozes, de risos, de festas,

resquícios de trejeitos, apreços,

a última valsa dançada, serestas

e cheiros impregnados, abraços,

regalos dos encontros de emoção,

harmonia, tantos retratos de orgulho

apontando tesouros com devoção.

Se melhorar estraga, ele feliz dizia.

Partiu assim, sem muito barulho,

deixando as sementes, o legado,

o exemplo de bondade e alegria.

Tudo agora é etéreo e enraigado

na luz, na calma da eternidade.

Mesmo sabendo, somos pequenos

ao repetirmos em religiosidade

—Seja feita a Tua vontade—

Ainda nos faltam fulgores plenos,

sufocamos, engasgamos rebeldes

e nos confundimos na ambiguidade:

aceitar a partida sentindo saudades.


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