quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

NO CHÃO DO MUNDO


 

Nossos alicerces nos prendem

como raízes em terra árida.

O mesmo pão, o mesmo barro,

o limoeiro, um poço,

o escorregão no esterco.

Jamais o esquecimento Zé.

A urina escorrendo na parede,

uma bala melada,

uma engolida seca de pó,

vidro estilhaçado, o choro.

A mesma massa, o cheiro

de ar parado, palavras mudas,

o grito, o riso, o lixo,

um fraco toque de vida,

a comunhão, a escada.

Tudo estaria para sempre

antes das pálpebras, antes.

Jamais o esquecimento Zé.

Para nós dois como para tantos,

restará muitas vezes a sensação

de num repente estatelar-se

no chão do mundo

e no charco,

nem sentir-se no direito

de levantar para a guerra.

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