Amigo
amor, não me abandone tanto tempo assim. Os minutos voam e eu larguei as rimas,
as folhas, assim como quem quer largar o próprio ritmo dos passos, das linhas
que eu traço e não gosto muito. Meu corpo está cansado, mas com a cabeça funcionando
no meio da solidão, não consigo relaxar para dormir. Amigo amor, não me abandone. Preciso levar um beliscão de vez em quando,
para acordar e escutar as ilusões que eu mesma crio, acredito que me salvam e
deixam um ar de sonho. Agora estou olhando a noite e sentindo os ruídos, sim, consigo
sentir o som com uma integração que me apavora. Então eu sou noite, enraizada nessa mística
ilusão, no ver estrelas, hipnotizada, solta pela condição de ser noite e
ninguém me ver. Talvez seja assim mesmo, um grande medo das pessoas, da vida
fora da minha noite que já é tão cheia de fantasmas. Mas estás aqui, célula viva do amor aninhada em
mim e eu sinto que um dia me levarás para outro caminho, sem medo, onde terei
mais respostas e ressonância. E eu agora, sem perceber tamanha, longa distância
das horas e do espaço, das diferenças, vou dormir e digo: eu já vou, eu já vou
amigo amor.
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