quinta-feira, 7 de maio de 2020

CARTAS ATEMPORAIS - DOIS




Amigo amor, não me abandone tanto tempo assim. Os minutos voam e eu larguei as rimas, as folhas, assim como quem quer largar o próprio ritmo dos passos, das linhas que eu traço e não gosto muito. Meu corpo está cansado, mas com a cabeça funcionando no meio da solidão, não consigo relaxar para dormir. Amigo amor, não me abandone.  Preciso levar um beliscão de vez em quando, para acordar e escutar as ilusões que eu mesma crio, acredito que me salvam e deixam um ar de sonho. Agora estou olhando a noite e sentindo os ruídos, sim, consigo sentir o som com uma integração que me apavora.  Então eu sou noite, enraizada nessa mística ilusão, no ver estrelas, hipnotizada, solta pela condição de ser noite e ninguém me ver. Talvez seja assim mesmo, um grande medo das pessoas, da vida fora da minha noite que já é tão cheia de fantasmas.  Mas estás aqui, célula viva do amor aninhada em mim e eu sinto que um dia me levarás para outro caminho, sem medo, onde terei mais respostas e ressonância. E eu agora, sem perceber tamanha, longa distância das horas e do espaço, das diferenças, vou dormir e digo: eu já vou, eu já vou amigo amor.

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