segunda-feira, 4 de maio de 2020

FISSURA




Acolhe-me eu imploro!
Perdem-se de mim

minhas vestes e em vão
as mãos tateiam retrancas.
Em meio às tensões
afloram fraquezas.

Olha-me como sou!
Reinventei tanto
e quando já nem sei,
desapeguei-me
das possíveis razões
e o amor cumulou
no pudor reverso

Visceralmente sangro
e me desfaço de mim.

Não há o caminho do meio
nesse tempo de silêncios.

Revela-se em mim eu grito!
Não me emancipa
a descoberta da solidão.
Um corpo só não basta
emoldurado no espelho
estraçalhado da memória.

Ama-me eu desejo!
Não exige explicações
o amor do avesso
visguento e ilógico,
nem a poesia
que brota abundante.

Em meio ao desalento
imito Michel Quoist
Aqui está, Senhor, esta noite,
todo o meu amor inativo.

Podemos amar pelo outro?


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