segunda-feira, 18 de maio de 2020

PAISAGEM



Atrás da vidraça nas alturas
a mulher observa a cena
da cidade em movimento.
O ar condicionado gela as veias.
Na ciclovia, entre o rio e o trem
corre um homem pássaro verde
sobre duas rodas, solitário,
sob a chuva cadenciada
encharcando seu corpo,
escorrendo no rosto e capacete,
pesando seu fardo, num desafio
de sobrevivência e resiliência.
Apostam corrida e o vento empurra,
o homem... o rio... e o trem...
A mulher atrás da vidraça estremece,
deseja a liberdade da chuva no rosto,
do homem que corre pra não pensar.
Anestesiados, amortecidos,
carregam suas escolhas como tantos,
aceitam a vida que finge seguir,
dormentes esperando amanhãs...

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