domingo, 31 de maio de 2020

PELO FILTRO DO POETA




Quem diz da tristeza do poeta
quando assiste, empurra para dentro,
consternado vê injustiças e coleta,
elegendo a sua alma como centro.

Quem diz do fel que engole,
assimila, macera o joio, tritura,
coagula o sangue que escorre,
enquanto superação mistura.

As notícias de sempre exasperam,
são as mesmas desde o raiar do dia.
Caim mata Abel. Há muito impuseram
que impere o poder da covardia.

Que o alcance os que puderem!
Deixa-se ilha em meio às lágrimas
tornadas nele oceano, até secarem
os desencantos das forças ilegítimas.

Quem diz da tristeza do poeta
quando extasiado contempla a lua,
nas nuvens esconde e fugaz deleta
do poema, a dor que gerou sua.

Permitam vez em quando que chore
a alternância entre morrer e viver.
Muitos abismos paradoxos escolhe
e como pertencente tenta se absolver.

Recolham com desvelo seu fruto!
Pelo poeta as dores são filtradas,
convertidas em bálsamo absoluto,
no amor-compaixão transmutadas.


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