quarta-feira, 16 de setembro de 2020

DO PARAPEITO VITAL


 

Não sou aquilo que vês...

A couraça que percebes

é o excesso de fragilidade,

que move ou tortura.

Dentro da concha cerrada,

a porta em ferrolhos,

permito frestas que me alimentam.

E o alimento caminha filtrado

no suporte do meu parapeito.

Nele contemplo

o complexo do ser

em solidão e unidade.

Contemplo a comunhão

da beleza e ironia,

da grandeza e mediocridade,

dos rumos e destinos vãos,

do irreversível óbvio pó

e o tão divinal inevitável está

em simplesmente ser.

Em entendimento e devolução

converto o que vejo

em palavras que registro.

Em minha suposta apatia,

passam as coisas, os homens,

os fatos, e deixam cargas e marcas

e a sensação, de ser tudo

simples e infinito.

Não há nada que me exclua

ou me distancie da engrenagem.

Sou partícula num todo

de massa, cinza, éter.

Mesmo deste parapeito inescrutável

(dirás?) e vital feito placenta,

habito um universo em que sou parte

e magicamente sou todo.

 



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