Há que se abster de querer ou
imaginar o macro mundo que te envolve. Não há necessidade, já que tão enraizada
estás em seus meandros e artifícios (tudo te levará à mesma perplexidade). Bastar-te-á apenas ser conivente e cúmplice
das coisas, das pessoas. O que te
alimentará será o halo circundante que antecede o âmago do objeto, nada de
apossar-te da verdade, liquefeita que já estará para o teu entendimento. A intimidade, esta adquirida na vigilância constante,
no espreitar zeloso da noite, te iluminará; cuidarás para que a magnificência e
a dissonância do que existe estejam intactas e resistentes diante da pequenez
de tantos. Permanecerás a assistente
dos minutos e terás o direito de integrar-te na transmutação inevitável, na
troca e na comunhão de energias constantes.
Para
tanto, é preciso que quase abdiques de ti mesma, da vaidade, deixando somente a
humildade aguardando e te guiando no mistério.
Esquece a sabedoria que há na ordem - pode ser sábia, mas não
exata. Aceita a desarmonia, o
emaranhado do pensamento e a ansiedade.
O IRREAL REAL É O INSTANTE. Ele
será a tua busca. O decorrer
imutável. Perseguirás a densidade dele e
te curvarás dominada, tão ineficiente tua vontade. Inutilmente resistirás, acatarás a
complexidade entre o morrer e o gerar de células. Única aspiração: a conquista
do advir.
E assim, no expirar e aspirar
engolirás a placenta que te fará capaz o bastante para não desertares nessa
sequência frágil e sagrada. Não
desejarás a imortalidade de Mozart nem a fila de seus seguidores; te
contentarás em parir palavras, o que te aliviará da sina que carregas às vezes,
tão comiseravelmente. Há que se fascinar
por elas. Inebriar-se em seus entremeios e poder. Enfim, terás dilacerado todas as entranhas e
merecido o espanto e o gozo. Terás
alcançado a dimensão de doar-se simplesmente.
Te sujeitarás a morrer sempre e renascer tal fênix para recepcionar virginalmente o instante,
que continuará infinitamente: o instante-já, a obra intrínseca da criação.
Simplesmente maravilhosooooo!!!
ResponderExcluirRoberta, deve ser você! Gratidão poeta!
ExcluirBelíssimo ! poema filosofia !
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