terça-feira, 8 de setembro de 2020

POUSO FORÇADO


 

Transpareço o explícito cruel,

comove-me, esbarra ao acaso.

De sobressalto despenca o véu,

ápice que nas folhas extravaso.

 

Por arbítrio ignoro o antevir.

Castigo-me e calo, medito

no quanto custa não me ouvir

e aceitar, imaginar o não dito.

 

Consentir que te alcancem

mais além do que ti mesmo

é sempre um risco, o que tecem

ao bel prazer é cerzido a esmo.

 

Deixamo-nos à mira de dardos

lançados a mil, aleatoriamente,

de soberba e egotismo abastados

somos alvos, inexoravelmente.

 

É tão mais sedutor reinventar,

disfarçar o momento da tristeza,

pois são belas as palavras no ar

que soam na desejada clareza.

 

 A quem atribuímos o deszelo

senão a nossa vã ingenuidade,

ao acreditar no outro o espelho

de encontro à necessidade?

 

Escuto a voz antes entorpecida

e reencontro de vez a realidade,

a escolhida, tão mais conhecida,

elejo-me só na suposta sanidade.

 

Conformada de mim sem máscaras,

sem adormecimentos que cegam,

celebro a solitude sem amarras.

Na poesia meus eus me segregam.

 

 

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