segunda-feira, 14 de setembro de 2020

SUBSTÂNCIA DO POETA


 

Resvalam nele sem piedade

os excessos descartados

e ele, em total permissividade

escolhe os desesperados.

Acata para si com destemor

e transmuta com placidez,

disfarça na face o desamor,

no limbo joga a sordidez.

Ao resgatar os náufragos

celebra extasiado a epifania

com palavras feito afagos.

De que latente alquimia

compõe o âmago desvairado

mais do que vasto do poeta?

Quando absorve o espreitado,

a servilidade tem como meta

a submissão como estado,

e já sabe o entranhável das margens.

De que encantamento, qual sina

ao missionário poeta se destina

ao se apropriar de alheias bagagens

e se deixar catarse das alegrias e dores?

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