quinta-feira, 25 de junho de 2020

ABSTENÇÃO




Anestesio ainda a ansiedade.
Entro na fila, no palco inacabado
e reluto, como sobrevivente
ou anormal que se alheia.
Arrasta-me o colosso de odores e sons
e a programada sensação que impõem.
À plateia que se alvoroça, indaga,
e inquieta aguarda as setas luzes,
eu abstenho a palavra.
Ainda ajeitarei o cenário pleno,
capaz de suportar a explanação
do meu espanto ante ser.
Rejeitarei mecânicos sorrisos
e tentarei resgatar em tempo
o sentido e a lágrima da emoção.
Antes que sucumbam os elos
e irremediável se distancie
a comunhão dos corpos,
a fusão de almas
que pactuam a vida.

Do meu segundo livro, 1996
DO PARAPEITO VITAL







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