terça-feira, 16 de junho de 2020

RETRATO


O espelho zombeteiro
todas as manhãs
me lembra ontens
e sonhos tombados.
As notícias cotidianas
me apressam.
Na consciência de partícula efêmera,
aberta para qualquer destino,
aflige o peso da palavra calada
e do ensaio em que me deixo.
Não fui feita para a superfície de nada.
E, no entanto, me perco, me embaraço
em buscas e tantos rascunhos,
tentando decifrar
a pose distorcida
de um retrato antigo e gasto
de mim mesma
(tão banal e parecido com outros)
misturado à confusão da gaveta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário