sexta-feira, 19 de junho de 2020

DESAPEGO



Espalhas teus rabiscos
de palavras sem nexo
desperdiçadas
nas mesas, reflexo
vão, falas avariadas,
absorções de parcos risos
dos bares nefastos

Teu discurso fará eco
nas bocas que sequer aguçam
o desejo no lábio seco

Que toquem os venais
a superfície efêmera,
esvai teus carnais
anseios e reverbera
o dissolvido, o recolhido
pela noite bêbada.

O que não busca tua essência
compraz-te, doloso engano.
No amanhã ditas reticência
perante o simples cotidiano,
possuis a folha e o bico da pena
dadivosos ao teu alcance

Rascunhas continuamente
a tua história, e num relance
te dispersas levianamente.
Funesta escolha sorvida,
aceitando que transcorra a vida
sem teu gozo, nula existência

Deixo-te ao teu sol
se for esse o que te doura

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